É preciso enxergar além da
morfologia. A semântica da língua é muito importante para entendermos o que a
palavra realmente representa. Na vida ocorre o mesmo. Pensamos que algo é
adição, mas na verdade é cotradição. É
linguístico. É corriqueiro.
Muitas vezes julgamos encontrar o
empregado ideal, o amigo ideal, a cara metade ideal, pela cara. Esta é feito uma laranja: sua casca pode
estar com uma boa aparência, mas sem
gosto; ou estar um pouco podre
externamente , e sua polpa ser mais doce
que o mel. Pode também ser o que
realmente aparenta ser.
Luis de Camões nos dá um bom
exemplo:
‘’(...) é ferida que dói e não se sente... ’’
Pois é, encontramos situações em
que nos deparamos com algo semelhante: a contradição se escondendo por trás de
uma roupagem aditiva. Substitua na oração acima a conjunção ‘e’ pela ‘mas’ e
verá que aquela é falsa.
Pra resumir essa situação na
nossa vida, não direi nada, apenas tomarei emprestada a frase de Renato Russo:
‘’Tem gente que está do mesmo lado que você, mas deveria
estar do lado de lá...’’
Entretanto, há também o outro
lado da moeda: aquilo que pensamos ser ofensivo é na verdade o que precisamos.
E a língua portuguesa nos ajuda mais uma vez. Observe a frase:
‘’Ele é trabalhador, mas também honesto!’’
De modo afobado até, tendemos
concluir que o ‘mas’ se trata de uma conjunção adversativa. Engano de novo.
Substitua-o pelo ‘e’ e verá que se trata de uma aditiva. Pois é, mais uma vez o
estético nos confunde.
Em muitas situações nos deparamos
com o ‘mas’ da vida: desânimo, ócio, amargura, decepção... Isso tudo
deve fazer parte da vida. E nós devemos saber aproveitar. Sim, mesmo na
contradição podemos encontrar a solução àquilo que desejamos. O caminho ao
sucesso nem sempre é fácil. Aliás, ser fácil é exceção. A mulher mais rica da Inglaterra enxergou o
que poucos conseguiram: a adição no ’mas’. Ela vivia à custa do governo, tinha
uma filha pra cuidar sozinha. Quem é ela? J.K. Rowling. Ela é apenas criadora de Harry Potter.
Por isso, devemos ter cuidado com
os julgamentos que fazemos diariamente, tanto nas provas de português quanto no
cotidiano e, acima de tudo, enxergarmos a adição no ‘mas’ que a vida nos traz. Que a ‘semântica da vida’ se sobreponha a sua ‘morfologia’. Que esta sirva como
acessório, e aquela como principal.
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