domingo, 30 de setembro de 2012

Nem todo ‘e’ é aditivo


É preciso enxergar além da morfologia. A semântica da língua é muito importante para entendermos o que a palavra realmente representa. Na vida ocorre o mesmo. Pensamos que algo é adição, mas na verdade é cotradição.  É linguístico. É corriqueiro.
Muitas vezes julgamos encontrar o empregado ideal, o amigo ideal, a cara metade ideal, pela cara.  Esta é feito uma laranja: sua casca pode estar com uma boa aparência, mas sem  gosto;  ou estar um pouco podre externamente , e  sua polpa ser mais doce que o mel.  Pode também ser o que realmente aparenta ser.
Luis de Camões nos dá um bom exemplo:
‘’(...) é ferida que dói e não se sente... ’’
Pois é, encontramos situações em que nos deparamos com algo semelhante: a contradição se escondendo por trás de uma roupagem aditiva. Substitua na oração acima a conjunção ‘e’ pela ‘mas’ e verá  que aquela é falsa.
Pra resumir essa situação na nossa vida, não direi nada, apenas tomarei emprestada a frase de Renato Russo:
‘’Tem gente que está do mesmo lado que você, mas deveria estar do lado de lá...’’
Entretanto, há também o outro lado da moeda: aquilo que pensamos ser ofensivo é na verdade o que precisamos. E a língua portuguesa nos ajuda mais uma vez. Observe a frase:
‘’Ele é trabalhador, mas também honesto!’’
De modo afobado até, tendemos concluir que o ‘mas’ se trata de uma conjunção adversativa. Engano de novo. Substitua-o pelo ‘e’ e verá que se trata de uma aditiva. Pois é, mais uma vez o estético nos confunde.
Em muitas situações nos deparamos com o ‘mas’ da vida: desânimo, ócio, amargura, decepção... Isso tudo deve fazer parte da vida. E nós devemos saber aproveitar. Sim, mesmo na contradição podemos encontrar a solução àquilo que desejamos. O caminho ao sucesso nem sempre é fácil. Aliás, ser fácil é exceção.  A mulher mais rica da Inglaterra enxergou o que poucos conseguiram: a adição no ’mas’. Ela vivia à custa do governo, tinha uma filha pra cuidar sozinha. Quem é ela? J.K. Rowling.  Ela é apenas criadora de Harry Potter.
Por isso, devemos ter cuidado com os julgamentos que fazemos diariamente, tanto nas provas de português quanto no cotidiano e, acima de tudo, enxergarmos a adição no ‘mas’ que a vida nos traz.  Que a ‘semântica  da vida’ se sobreponha a  sua ‘morfologia’. Que esta sirva como acessório, e aquela como principal.